“Isso é só para o Instagram. Nada disso é real.” Quantos já ouvimos ou navegámos nesta narrativa enquanto criticámos o que aparenta ser fachada em muitas vidas nas redes sociais? Desde a ascensão do Tumblr, do Photoshop e dos blogs, no início da década de 2010, que o conceito de romantizar vidas perfeitas e atingir os elevados padrões da sociedade – ao mesmo tempo que criamos uma versão ilusória de nós mesmos para um público mais amplo e online – se faz presente.

Atualmente, com o processo viciante de scrolling e swiping, não é surpresa que apps como o Instagram ou TikTok tenham adicionado um outro tempero à receita, fazendo explodir a magnitude do efeito que a “vida online” tem na vida real de cada um. Mas quem realmente podemos culpar por tudo isto?

Inevitavelmente, por mais doloroso que seja ouvir, a verdade é que todos fomos absorvidos e infetados pelo mesmo problema: um pilar de falsidade nas redes sociais, que hoje arrasta-nos à força e, inconscientemente, adoramos sustentar. Mesmo que não haja quem culpar precisamente, devemos assumir a responsabilidade por permitir o desenvolvimento deste mar de ficção que nos rodeia.

Enquanto isso, ao mesmo tempo que postamos os lindos brunches que devoramos nas nossas manhãs, os nossos corpos perfeitos a enfeitar à beira de uma piscina em férias paradisíacas, ou o suor e a diversão da festa da noite passada, tudo o que partilhamos online é um fio ténue e simplificado dentro de uma crónica. Uma crónica inundada pelo filtro adequado ou pela descrição melodramática. Forte o suficiente para projetar uma vida muito mais estável e melhor do que aquela que se apresenta diante de nós.

Embora muitos ainda critiquemos ou lamentemos a inautenticidade ou falta de verdade nas vidas online, mesmo aqueles como eu, que tendem a fornecer as narrativas mais cruas aos seus seguidores, o conteúdo editado, esteticamente agradável e com curadoria perfeita não pára de chegar. Uma parte de nós espera ansiosamente que, eventualmente, nos tornemos em “nós mesmos do mundo virtual”, porque a bem ou a mal já somos fantásticos em fingir que o somos. Ser visto como alguém que vive a sua melhor vida tornou-se numa obrigação num reino onde experiências maravilhosas e exuberantes acontecem constantemente online.

Então, será que isto já foi longe demais? Quer sejam os nossos influenciadores favoritos ou celebridades queridas, muitos de nós já nos encontrámos do outro lado da tela, consternados com o que os nossos olhos presenciaram, oprimidos pela realidade de que talvez a vida de outra pessoa seja muito mais interessante que a nossa. E devido ao intenso impulso em direção a esse senso de perfeição que paira nas redes sociais, é difícil não reexaminar constantemente as nossas “imperfeições” ou “falhas” e afundarmo-nos na sombra da comparação e do síndrome do impostor. Inerentemente, isto evolui ainda mais, catapultando-se à custa da nossa percepção de nós mesmos e da saúde física e mental. De forma viciante, somos persuadidos pelos nossos favoritos a desejar, sem quaisquer falhas, a melhor versão de nós mesmos, e, no entanto, isso também acaba por não ser bom o suficiente porque o mundo online obstrui severamente a nossa realidade e campo de visão.

Olhando para mim, como exemplo, não consigo contemplar uma parte de mim crescendo com a pressão social e financeira adicional que hoje as aplicações de redes sociais impõem aos mais jovens. A pressão social para alcançar a perfeição e a excelência, proveniente das gerações que vêm antes de mim e de anos de traumas geracionais internalizados é prejudicial e tóxica o suficiente. Já somos obrigados a render-nos às normas sociais sem piscar um olho, e pronto. Sendo assim, tentar superar as expetativas dos nossos homólogos e, ao mesmo tempo, desconsiderar o nosso bem-estar diariamente devido a quem admiramos online ou seguimos religiosamente, não é viável ou saudável a longo prazo. Consequentemente, não é novidade que isto destaca as conexões profundas entre as questões de saúde mental e as redes sociais.

É assustador imaginar os resultados factuais de tudo o que absorvemos dos nossos seguidores e quão distorcida e superficial se tornou a nossa percepção da realidade e da vida quotidiana. Por experiência própria, pensei muitas vezes que seria mais feliz e mais desejável se o universo me desse coxas cheias em vez das minhas covinhas ou que a minha vida seria instantaneamente cheia de alegria e sem ansiedade se acrescentasse outro país à minha lista de viagens. Além disso, em muitos episódios senti-me inferior por causa das circunstâncias e do ambiente em que nasci, embora o destino tenha simplesmente estado fora do meu alcance. A minha mente envolveu-se num turbilhão onde enganei-me ao presumir que todas estas coisas levariam-me automaticamente à felicidade. Porque, apesar do que muitos de pensamos, às vezes, olhar-se ao espelho e inundar-se de afirmações positivas não é suficiente em comparação com um dispositivo que parece quantificar o quão desejável, amada e desejada és. A nossa sociedade atual gira em torno da partilha e a sua cultura implica que a nossa auto-estima e amor-próprio sejam nutridos pela validação que os outros derramam em nós.

Então, como resolvemos isto? Precisamos redefinir e recalibrar. Começa por reconhecer que as redes sociais e as vidas ali retratadas nem sempre são precisas; portanto, elas também não deveriam definir o nosso senso de identidade. Separar ambos é possível se aprendermos quando recuar e examinar o que nos rodeia e o nosso interior.

Aqui estão algumas sugestões que podem ajudar-te:

  • Revê o que segues e questiona se todo o conteúdo é inspirador, sem nenhuma pitada de sal.
  • Responsabiliza-te. Será que precisas investir tanto tempo no telemóvel ou verificar likes e notificações com tanta frequência?
  • Desliga as notificações de redes sociais e coloca um cronómetro de navegação para equilibrar o teu tempo online e offline. Isso levar-te-á a um relacionamento mais consciente e saudável com o teu telemóvel.
  • Faz uma pausa sempre que necessário. Não és obrigado a apagar as tuas redes sociais, mas às vezes, eliminar os aplicativos do telemóvel ou suspender contas temporariamente pode fazer uma grande diferença (já estive lá).
  • Reflete ao pegar no telemóvel e pergunta-te se estás simplesmente a dar uma olhada rápida ou se estás entediado, solitário ou num momento de procrastinação que será capaz de durar horas e horas.
  • Guarda o telemóvel quando estás rodeado de família e amigos. Aproveita o momento.
  • Analisa o que vês online e o quanto te afeta na vida real.
  • Substitui o tempo de écran por tempo ao ar livre, na natureza ou lendo sempre que possível.

Todos nós nos esforçamos enquanto lutamos contra as muitas faces que as redes sociais nos vendem online, mas a diferença é que alguns não duvidam de si mesmos e do seu potencial para alcançar a felicidade genuína. O que vemos não é sempre o que obtemos mas nós merecemos muito mais do que uma lente angular. Portanto, vamos tentar absorver tudo isto, lembrando-nos que devemos ser autênticos sob os nossos termos e os de mais ninguém. Porque, sinceramente, ninguém tem as suas tralhas todas em ordem.